Em um momento em que as discussões sobre clima e finanças se entrelaçam como nunca antes, gestores e investidores buscam alternativas para proteger seu patrimônio e o futuro do planeta.
O desinvestimento em combustíveis fósseis emerge como uma resposta estratégica e alinhada com as metas climáticas globais,.
Contexto Global: Urgência e Riscos
As emissões globais de CO₂ provenientes de combustíveis fósseis devem atingir 38,1 bilhões de toneladas em 2025, um novo recorde histórico. Esse quadro reforça a necessidade de ações imediatas nas carteiras de investimento.
Embora o Acordo de Paris estabeleça o objetivo de limitar o aquecimento a bem menos de 2 °C, idealmente 1,5 °C acima do nível pré-industrial, o ritmo atual de emissões torna essas metas “inalcançáveis” sem cortes rápidos no uso de fósseis.
O consumo de carvão, petróleo e gás natural segue alto, com projeções indicando volatilidade no médio/longo prazo e risco de ativos encalhados (stranded assets) para investidores.
Situação Brasileira: Dependência e Discurso
O Brasil assumiu compromissos ambiciosos de reduzir 59% a 67% das emissões de GEE até 2035 em relação a 2005, mas esbarra numa estrutura de subsídios que favorece combustíveis fósseis.
Esses dados mostram que quase 81,9% dos incentivos fiscais ao setor de energia ainda destinam-se a produtos fósseis. A reoneração de tributos como PIS, Cofins e Cide pretende elevar a arrecadação para mais de R$ 50 bilhões, reduzindo gradualmente os subsídios ao diesel e à gasolina.
Apesar de ter se tornado exportador de petróleo na última década e de o setor representar 10,3% do PIB industrial, a expansão fóssil traz riscos socioambientais, sobretudo na Amazônia.
Na região Norte, existem 126 blocos de exploração, afetando 2,7 milhões de indígenas e ameaçando 10 milhões de hectares prioritários para conservação.
Fluxos Financeiros e Pressão Social
Nos últimos três anos, bancos comerciais injeteram US$ 138 bilhões em financiamento para expansão de petróleo e gás na América Latina, enquanto investidores institucionais detêm US$ 425 bilhões em empresas fósseis na região.
Esses recursos, em sua maioria vindos de fora da América Latina, confrontam uma opinião pública que, segundo pesquisa ClimaInfo/Pollfish, defende em 81% que a Petrobras direcione-se a fontes renováveis.
Potencial das Renováveis e Oportunidades
O Brasil detém a maior participação de energia limpa no G20, com hidrelétricas, usinas eólicas e parques solares no centro de um modelo que já atraiu US$ 36,4 bilhões em financiamentos do BNDES em duas décadas.
Iniciativas públicas e privadas discutem um mapa do caminho para reduzir progressivamente o uso de combustíveis fósseis, vinculando financiamento a projetos de restauração florestal e energia de baixo carbono.
Essa capacidade de transição acelerada coloca o país em posição de destaque para realocar capital e gerar retornos consistentes a longo prazo, beneficiando investidores e comunidades locais.
Desinvestimento Fóssil: Uma Estratégia Financeira Inteligente
Ao se afastar de ativos ligados a combustíveis fósseis, o investidor protege-se contra quatro frentes de risco:
- Risco regulatório e tributário: impostos seletivos e reoneração de subsídios reduzem margens de lucro.
- Risco de mercado: volatilidade e ameaça de ativos encalhados em portfólios com alta exposição a fósseis.
- Risco reputacional e social: pressão de consumidores e investidores institucionais por práticas sustentáveis.
- Oportunidades em renováveis: realocação de capital para projetos de energia limpa com alto potencial de crescimento.
Essa abordagem permite:
- Proteger o patrimônio contra mudanças abruptas de política.
- Acessar novos setores em expansão, como solar, eólica e bioenergia.
- Contribuir para metas climáticas e fortalecer a reputação corporativa.
Em um cenário global que exige ações imediatas e coordenadas, o desinvestimento fóssil se mostra não apenas uma decisão ética, mas uma estratégia financeira alinhada às tendências de mercado e à transição energética.
Investidores que liderarem esse movimento poderão desfrutar de retornos sustentáveis e de longo prazo, reduzindo riscos e fortalecendo a resiliência de suas carteiras.
O momento de agir é agora: redirecionar capital de setores antigos rumo a uma economia de baixo carbono pode ser o grande diferencial entre carteiras estagnadas e portfólios verdadeiramente preparados para o futuro.
Referências
- https://brasil.mongabay.com/2025/02/brasil-mira-descarbonizacao-mas-segue-subsidiando-combustiveis-fosseis/
- https://www.poder360.com.br/cop30/brasil-lidera-expansao-fossil-enquanto-cobra-transicao-energetica/
- https://operamundi.uol.com.br/cop30/combustiveis-fosseis-devem-bater-recorde-em-2025-revela-estudo/
- https://www.bloomberglinea.com.br/2025/11/13/vamos-consumir-muito-combustivel-fossil-por-muito-mais-tempo-mas-ha-um-vies-positivo/
- https://almapreta.com.br/sessao/cotidiano/emissoes-de-co2-de-combustiveis-fosseis-baterao-recorde-em-2025-diz-estudo/
- https://www.novacana.com/noticias/apos-focar-fundo-florestas-brasil-mira-roteiro-reduzir-uso-combustivel-fossil-181125







